O relato parte do Washington Post. Segundo o jornal nesta quarta-feira (7), o FBI afirmou que está “profundamente preocupado com a ameaça de ponta a ponta e criptografia de acesso somente do usuário”. Mas a reocupação, do ponto de vista do órgão policial, não é em vão. Desde 2016, a Apple e o FBI vêm travando uma batalha gigantesca. A confusão foi desencadeada depois de um atentado em San Bernardino, nos Estados Unidos, quando as forças de segurança queriam que a Apple criasse um backdoor para desbloquear o iPhone 5c do atirador. A Apple se negou, pois a brecha poderia ser explorada posteriormente por pessoas mal-intencionadas. Mas o FBI deu logo um jeito para desbloquear o celular, mesmo com muito esforço. Este episódio resultou em uma corrida de gato e rato, pois a Apple fortificou ainda mais a segurança dos seus produtos nos anos seguintes. Mas isto não impediu o FBI de agir e buscar alternativas: solicitar informações armazenadas no iCloud, pois nem todos os dados são criptografados ponta a ponta. Para evitar acessos indevidos, esta porta também está sendo fechada com a ampliação da criptografia para abranger mais categorias de dados, como fotos e backup. Diante disso, o FBI afirmou que esta mudança prejudica a “capacidade de proteger o povo americano de atos criminosos que vão desde ataques cibernéticos e violência contra crianças até tráfico de drogas, crime organizado e terrorismo”. “Nesta era de segurança cibernética e demandas por ‘segurança por design’, o FBI e os parceiros de aplicação da lei precisam de ‘acesso legal por design’”, concluíram.
EUA e Brasil são os países que mais solicitam dados
A medida da Apple, de fato, é necessária. Durante o anúncio da novidade, a fabricante do iPhone informou que os dados no iCloud ficam protegidos mesmo se a conta for invadida. Afinal, somente o dispositivo terá a chave para descriptografar os dados guardados na nuvem. E há motivos para esta preocupação. Em 2014, por exemplo, uma brecha do iCloud aparentemente desencadeou um vazamento de fotos íntimas de celebridades. A plataforma também abriga outros tipos de dados sensíveis e que seriam valiosos nas mãos de criminosos. Esta decisão, como era de se imaginar, restringe até as ações da Apple. Afinal, com a criptografia de ponta a ponta, nem a companhia tem acesso aos dados. Dessa forma, mesmo com intimações judiciais, as forças policiais não terão acesso às informações, pois é preciso ter o aparelho em mãos – e desbloqueado – para acessá-las. E é justamente essa questão que preocupa o FBI. Em uma página de transparência, a Apple informou que os Estados Unidos e o Brasil aparecem na liderança no ranking de solicitações de informações em contas da Apple no primeiro semestre de 2021. Nos dois países, mais de oito em cada dez pedidos foram atendidos pela Apple. O relatório aponta que, nos Estados Unidos, há um “alto volume de solicitações de conta sem tipo de investigação predominante”. No Brasil, por sua vez, existe um “alto volume de solicitações de contas devido a ordens judiciais sem tipo de investigação predominante ou onde o tipo de investigação não foi indicado”. Com informações: Washington Post