Bitcoin deixa de ser “porto seguro” após invasão à Ucrânia; entenda oscilaçõesO que é bitcoin? [como comprar e acompanhar a cotação]
“Apoie com o povo da Ucrânia. Agora aceitando doações de criptomoedas. Bitcoin, ethereum e USDT”, afirmou o governo da Ucrânia no Twitter, deixando os endereços de duas carteiras digitais na postagem. Um dia depois, no domingo, as carteiras de bitcoin e ether oficiais do governo ucraniano já somavam mais de US$ 12 milhões. Nesta segunda-feira (28), o montante total recebido nas três criptomoedas era de US$ 13.766.104 no momento de publicação dessa matéria. Conforme mostram os dados abertos dos blockchain da Ethereum e do bitcoin, cada carteira digital já recebeu:
BTC: US$ 6.157.545,41ETH: US$ 6.240.836,90USDT: US$ 1.367.513,07
Inicialmente, muitas pessoas questionaram a veracidade do tweet. O próprio co-fundador da rede Ethereum, Vitalik Buterin, se mostrou cético inicialmente, indicando que a conta verificada no Twitter do governo da Ucrânia poderia ter sido tomada por hackers. No entanto, diversos outros usuários, incluindo um ex-diplomata dos Estados Unidos, confirmaram a veracidade das informações postadas e que as carteiras digitas realmente pertenciam às autoridades ucranianas. Uma das contribuições mais generosas foi de US$ 1,86 milhão, doada por um grupo de apoio humanitário, o mesmo que arrecadou milhões em tokens não fungíveis, ou NFTs, para apoiar os custos legais da defesa do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, no tribunal americano. As criptomoedas já estavam nos planos do governo ucraniano. Alguns dias antes da invasão russa, o país do leste europeu legalizou formalmente as moedas digitais e criou suas carteiras digitais governamentais. Na verdade, a Ucrânia já realiza mais transações internacionais em criptoativos do que na sua própria moeda fiduciária, a hrynia, de acordo com um relatório da empresa de análises e pesquisa Elliptic.
ONGs ucranianas também recebem criptomoedas
Na prática, as criptomoedas facilitam e agilizam as transações internacionais por funcionarem em redes blockchain. Assim, além da drástica redução de burocracia, os custos envolvendo as movimentações são extremamente baixos. Tanto que o governo federal não é o único na Ucrânia a arrecadar fundos através do crowdfunding de criptomoedas. Organizações não governamentais (ONGs) e instituições de caridade no país também estão apelando à comunidade cripto e pedindo por doações. Por exemplo, a Come Back Alive, uma ONG ucraniana que arrecada fundos para os militares, também recorreu a doações de criptomoedas na semana passada, depois que o serviço de pagamentos Patreon suspendeu a conta do grupo. De acordo com a plataforma, a ONG teria recebido US$ 400 mil por meio de seus serviços, mas violou seus termos de serviço, que proíbem a arrecadação de fundos para apoio militar. Segundo a Elliptic, o grupo já levantou “vários milhões de dólares” em doações de criptomoedas. O relatório da empresa também levantou que o governo ucraniano e as ONGs que atuam no país prestando apoio a militares já arrecadaram juntos cerca de US$ 19 milhões em criptomoedas desde que a Rússia invadiu a Ucrânia no dia 24 de fevereiro.
Rússia pode usar criptomoedas para driblar sanções
No entanto, os invasores também podem fazer uso das criptomoedas, algo que vem preocupando autoridades e especialistas do mundo todo. Atualmente, a Rússia é alvo de diversas sanções pelo governo dos Estados Unidos, mas as moedas digitais podem se tornar uma ferramenta para driblar as restrições econômicas impostas. Caso opte por evitar as sanções, a Rússia tem várias ferramentas relacionadas a criptomoedas a sua disposição, disseram especialistas ouvidos pelo New York Times. Tudo que Moscou precisa é encontrar maneiras de negociá-las sem usar o dólar americano no processo. Por mais que o governo russo tenha tomado uma postura anti-cripto, o cenário de guerra pode mudar as coisas. Além disso, o banco central da Rússia está desenvolvendo sua própria moeda digital estatal (CBDC), que espera usar para negociar diretamente com outros países dispostos a aceitá-la sem primeiro convertê-la em dólar. Há ainda a preocupação de que a Rússia use hackers e técnicas de ransomware para roubar moedas digitais e compensar a receita perdida com as sanções. Isso não é tão absurdo de se pensar. A Coreia do Norte, por exemplo, já vinha fazendo algo similar para financiar seus planos nucleares e driblar sanções, segundo um relatório da ONU. Além disso, a Rússia já é a sede dos maiores grupos de ransomware do mundo. No ano passado, cerca de 74% da receita global gerada por esse crime cibernético, mais de US$ 400 milhões em criptomoedas, foi destinada para entidades que provavelmente são afiliadas à Rússia de alguma forma, de acordo com um relatório de 14 de fevereiro da empresa análise de blockchain Chainalysis. Com informações: Fortune, The New York Times